O tratamento da parada cardíaca tem suas origens nos tempos
bíblicos e os esforços de melhoria tem se prolongado através dos séculos. O
marco para a realização das técnicas modernas ocorreu no ano de 1950, quando o
procedimento foi dividido nos passos A (vias aéreas/ airways), B (Ventilação/
breathing) e C (Circulação/circulation), e, em 1960, quando os pesquisadores
Koewenhoven, Jude e Knickerbocker publicaram um artigo sobre o uso das manobras
de compressão torácica, enfatizando que “tudo o que se precisa são duas mãos”
descrevendo os seus achados sobre 14 sobreviventes em um universo de 20
tentativas em que aplicaram esta técnica.
Nesse momento existencial a RCP era considerada um
procedimento estritamente médico, e seu impacto limitado. Paulatinamente, os
pontos de vista foram mudando e, por volta de 1974, as grandes vantagens de
envolver o público em geral tornaram-se mais evidentes, quando a AHA publicou
em um importante periódico científico de medicina, suas primeiras diretrizes destinadas
tanto aos profissionais da saúde quanto a leigos, tendo como ponto de partida,
dois princípios. O primeiro princípio consistia no fato de que um método ideal
poderia ser definido para todas as situações de parada cardíaca inesperada; e o
segundo, de que a disseminação desse conjunto de procedimentos poderiam e
deveriam ser posta em prática no âmbito da sociedade em geral.
Inúmeros esforços têm sido empreendidos no sentido de se
estabelecer um protocolo padronizado para o tratamento da PCR através dos
tempos, sendo o estabelecimento dessas diretrizes consolidadas na década de 60,
quando se estabeleceu o ILCOR, que sistematizou esses esforços através de uma
ampla revisão da literatura científica publicada referente ao tema, culminando
com o primeiro consenso científico internacional, no ano de 2000, e vem
realizando revisões periódicas deste consenso, que ocorreram em 2005, 2010 e
2015.
Os Comitês internacionais de ressuscitação foram direcionados
a aprimorar e produzir conhecimentos sobre a RCP, rever periodicamente as
diretrizes e simplificar o processo do atendimento. Fazendo-se
necessário, também prosseguir com a investigação em métodos de ensino que
possam aumentar a retenção de conhecimentos e habilidades em RCP, num esforço
contínuo para contribuir positivamente com os resultados do atendimento da
parada cardíaca.
A realização imediata de
ressuscitação cardiopulmonar (RCP) em uma vítima de parada cardiorrespiratória
(PCR), ainda que for apenas com compressões torácicas no pré- hospitalar,
contribui sensivelmente para o aumento das taxas de sobrevivência das vítimas
de parada cardíaca.
Cerca de 56 a 74% dos ritmos de
PCR, no âmbito pré-hospitalar, ocorrem em fibrilação ventricular (FV). O
sucesso da ressuscitação está intrinsecamente relacionado a uma desfibrilação
precoce, ideal, dentro dos primeiros 3 a 5 minutos após o colapso. A cada
minuto transcorrido do início do evento arrítmico súbito sem desfibrilação, as
chances de sobrevivência diminuem em 7 a 10%. Com a RCP, essa redução é mais
gradual, entre 3 e 4% por minuto de PCR.
Programas internacionais de RCP e
desfibrilação externa automática precoce, realizada por leigos, com taxas de
sobrevivência da ordem de até 85%, podem servir de modelo para melhorar o
manejo da parada cardíaca em outras comunidades.
O maior desafio, sobretudo no
Brasil, é ampliar o acesso ao ensino de RCP, estabelecer processos para a
melhora contínua de sua qualidade, além de minimizar o tempo entre a RCP e a
aplicação do primeiro choque pelo desfibrilador.
Portanto, as ações realizadas
durante os minutos iniciais de atendimento a uma emergência são críticas em
relação à sobrevivência da vítima. O suporte básico de vida (SBV) define essa
sequência primária de ações para salvar vidas. Por mais adequado e eficiente
que seja um suporte avançado, se as ações de suporte básico não forem
realizadas de maneira adequada, será extremamente baixa a possibilidade de sobrevivência
de uma vítima de PCR.
Resumo dos principais pontos de
discussão e alterações
Entre as principais questões e
alterações feitas nas recomendações da Atualização das Diretrizes de 2015 para
profissionais de saúde estão:
Estas recomendações permitem flexibilidade no
acionamento do serviço médico de emergência para corresponder melhor ao
ambiente clínico do profissional de saúde.
Socorristas treinados são encorajados a
executar simultaneamente algumas etapas (ou seja, verificar se há respiração e
pulso ao mesmo tempo), na tentativa de reduzir o tempo até a primeira
compressão torácica.
Equipes integradas por socorristas bem
treinados podem usar uma abordagem coreografada que execute várias etapas e
avaliações simultaneamente, em vez do modo sequencial, utilizado por
socorristas individuais (por exemplo, um socorrista ativa o serviço médico de
emergência, enquanto outro começa as compressões torácicas, e um terceiro
fornece ventilação ou busca o dispositivo bolsa-válvula-máscara para
ventilações de resgate, e um quarto busca e prepara o desfibrilador).
Tem-se dado maior ênfase em RCP de alta
qualidade, que utiliza metas de desempenho (com frequência e profundidade de
compressão torácica adequadas, permitindo retorno total do tórax entre as
compressões, minimizando interrupções nas compressões e evitando ventilação
excessiva).
A frequência das compressões foi modificada
para o intervalo de 100 a 120/min.
A profundidade das compressões em adultos foi
modificada para pelo menos 2 polegadas (5 cm), mas não deve ser superior a 2,4
polegadas (6 cm).
Para que haja retorno total da parede do tórax
após cada compressão, os socorristas devem evitar apoiar-se no tórax entre as
compressões.
Os critérios para minimizar as interrupções
são esclarecidos, com a maior meta possível na fração de compressões torácicas,
com alvo de pelo menos 60%.
Em locais onde os sistemas de SME já adotaram
conjuntos de procedimentos que envolvem compressões torácicas contínuas, o uso
de técnicas de ventilação passiva pode ser considerado parte desse conjunto
para vítimas de PCREH.
Em pacientes com RCP em curso e uma via aérea
avançada instalada, recomenda-se uma frequência de ventilação simplificada de 1
respiração a cada 6 segundos (10 respirações por minuto).
SBV na atualidade:
RCP de Alta Qualidade
A ênfase no Suporte Básico de Vida (BLS – Basic Life Suport)
nas Diretrizes 2015 continua na qualidade da massagem cardíaca. Portanto, uma
RCP de qualidade significa comprimir o tórax na frequência e profundidade
adequadas, permitir o retorno do tórax a cada compressão, minimizar
interrupções nas compressões e evitar ventilação excessiva. As novas
recomendações ficaram descritas assim:
Houve modificação nas compressões torácicas, que agora devem
ser feitas em uma frequência de 100 a 120 /min;
Também foi mudada a profundidade da compressão torácica em
um adulto médio, que deve ser em torno de 5cm, evitando ultrapassar 6cm;
Para garantir o retorno do tórax após cada compressão o
socorrista não deve apoiar-se no tórax entre as compressões;
A meta em termos de minimizar as interrupções é garantir que
as compressões torácicas ocorram em ao menos 60% do tempo da RCP. Isso
significa evitar interromper as compressões por mais de 10 segundos;
Para minimizar ventilações excessivas, uma vez colocada a
via aérea avançada, a proporção de ventilações foi simplificada para 10
respirações por minuto (uma ventilação a cada seis segundos).
Suporte Básico de Vida para Adultos – Socorrista Leigo
Foi reforçada a recomendação para que exista disponibilidade
de desfibrilador (DEA) em locais públicos com grande probabilidade de ocorrer
uma PCR presenciada (aeroportos, instalações esportivas, espaços de
espetáculos, etc);
Para ajudar o leigo a reconhecer uma PCR (e iniciar o atendimento),
bastam apenas os seguintes critérios: a vítima não ter resposta, ou não
respirar, ou ter uma respiração anormal (gasping). O treinamento do leigo deve
ser para reconhecer esses padrões, sem precisar checar pulso. Para um leigo não
treinado, ele pode ser orientado facilmente por telefone;
O algoritmo foi modificado para que o socorrista ative o
Serviço Médico de Emergência sem sair do lado da vítima (usando celular);
Tendo reconhecido a PCR, o socorrista leigo que não tiver
treinamento deve realizar apenas compressões torácicas até a chegada de um DEA
ou de outros socorristas treinados, ou ainda até que a vítima começa a se
movimentar espontaneamente;
A orientação para o leigo não treinado é: “comprimir com
força e rapidez no centro do tórax”;
Para o leigo treinado, foi reforçada a sequência C – A – B
para atendimento (circulation – airway – breathing). Portanto o socorrista deve
começar pelas compressões torácicas antes de realizar abertura de vias aéreas e
ventilações. A proporção permanece de 30 compressões para 2 ventilações;
Foi acrescentada a possibilidade de administrar naloxona
intramuscular ou intranasal em casos de suspeita de intoxicação por opióides
nas quais o paciente tenha ausência de resposta ou respiração anormal. Isso só
poderá ser feito por socorristas leigos treinados ou profissionais de saúde.
Suporte Básico de Vida para Adultos – Profissional de Saúde
Para identificar a PCR, o profissional treinado pode checar
a respiração e o pulso ao mesmo tempo para minimizar o tempo para o início das
compressões torácicas;
Identificada a PCR e estando sozinho, usar o celular para
acionar o Serviço Médico de Emergência e obter um DEA antes de iniciar a RCP.
Não estando sozinho, pedir para alguém fazer isso enquanto se inicia a RCP;
A nova recomendação é para utilizar o DEA assim que ele
estiver disponível, o que significa interromper as compressões torácicas e
desfibrilar o paciente;
Quando o Serviço Médico de Emergência assumir pode ser feita
uma estratégia de 3 ciclos de 200 compressões contínuas com choques
interpostos, enquanto se usa apenas insuflação de oxigênio passiva.
Fonte:
http://www.segurancadopaciente.com.br/central_conteudo/artigos-comentados/suporte-basico-de-vida-bls-novas-diretrizes-2015/
https://eccguidelines.heart.org/wp-content/uploads/2015/10/2015-AHA-Guidelines-Highlights-Portuguese.pdf