Satomi Mori*
Cláudia Satiko Takemura Matsuba**
Iveth Yamaguchi Whitaker***
* Enfermeira da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital São Paulo - UNIFESP.
** Aluna do Mestrado de Saúde do Adulto da UNIFESP. Enfermeira da UTI do Hospital do Coração – São Paulo.
*** Enfermeira. Docente do Departamento de Enfermagem da UNIFESP.
E-mail do autor: morisat@yahoo.com
Resumo
Este estudo descritivo teve como objetivos
verificar se o volume residual gástrico (VRG)
é avaliado antes de administrar a dieta e as
condutas da equipe de enfermagem diante
desse fator. A maioria (76,56%) dos membros
da equipe de enfermagem não verificou o VRG
antes de infundir a dieta por sonda
nasogástrica (SNG), embora 90,63% tenha
informado que realiza o procedimento. Do total,
20,31% afirmaram abrir a SNG a partir de 100ml
de VRG, a maioria referiu desprezar o aspirado
e 57,81% citaram administrar 100% do volume
prescrito independente do VRG aspirado pela
SNG. O estudo revelou a necessidade de
supervisão e orientação para a equipe de
enfermagem relacionada aos cuidados
pertinentes à infusão da dieta por SNG.
Descritores: enfermagem; volume residual;
dieta; sonda.
1 Introdução:
A avaliação do estado nutricional de quatro mil doentes
internados em hospitais da rede pública do Brasil, realizada
pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral(1)
em 1996, mostrou que 48,12% foram classificados como
desnutridos. O estudo salientou ainda que à medida que o
período de internação prolonga-se, aumentam os riscos para a
desnutrição.
Os pacientes graves internados em Unidade de Terapia
Intensiva (UTI) merecem uma atenção especial em relação ao
estado nutricional. Tal precaução deve-se ao fato de estarem
totalmente dependentes para se alimentarem, por
apresentarem maior consumo das reservas energéticas e
nutricionais em razão da própria condição clínica e resposta a
tratamento mais agressivo.
Vários fatores interferem na manutenção de uma nutrição
adequada e podem estar relacionados ao paciente, à doença,
ao tratamento e à terapia nutricional. Aqueles que se referem
ao paciente e à doença, mencionam a presença de náuseas,
vômitos, íleo paralítico, diarréia e mudança de hábitos
alimentares. A necessidade de longos períodos de jejum e
maior consumo calórico-protéico para realização de
procedimentos são considerados fatores relacionados ao
tratamento. Quanto aos fatores sobre a terapia nutricional,
encontram-se os que prejudicam a sua continuidade como,
por exemplo, a falha na comunicação entre os profissionais
que prestam assistência ao paciente grave(1,2).
Quando o paciente não consegue alimentar-se,
adequadamente, por via oral, outras vias alternativas podem ser utilizadas, se o trato digestivo estiver íntegro poderá ser
utilizada a via gástrica ou enteral para administrar a dieta por
sonda.
Na terapia nutricional gástrica ou enteral, a atuação da
enfermeira é fundamental e envolve vários aspectos do cuidado.
Além do controle da infusão das dietas e dos complementos, a
enfermeira é responsável pelo estabelecimento de acesso
gástrico ou enteral, pela via oral ou nasal (1,3,4), incluindo, a
avaliação, o seguimento diário da evolução do estado nutricional
dos pacientes. O funcionamento e a manutenção dos
equipamentos usados na terapia nutricional também devem
ser verificados pela enfermeira (5).
A observação do volume residual gástrico (VRG), antes
de infundir a dieta, é uma medida importante que possibilita
conferir a posição da sonda, o volume e características como:
coloração, odor e textura que são fundamentais para a tomada
de decisão sobre a infusão da dieta. Volume residual alto tem
sido considerado um marcador de intolerância gástrica à terapia
nutricional. Assim, um dos fatores que interferem na oferta
energética é a existência de débito elevado do VRG(6).
Na prática diária em cuidados intensivos, percebe-se
que a tomada de decisão para a infusão da dieta, mediante a
avaliação do VRG aspirado pela SNG, varia de uma equipe de
enfermagem para outra. As condutas modificam-se desde a
interrupção temporária da infusão da dieta, manutenção da SNG
aberta ou fechada, até a infusão da mesma em diferentes
quantidades obtidas de VRG, o que indica, aparentemente, a
inexistência de um critério claramente estabelecido. A falha na
determinação desses critérios pode levar ao aproveitamento inadequado da dieta, dos eletrólitos presentes na estase
gástrica, colaborando para o aumento dos índices de
desnutrição hospitalar pelo fato dos pacientes graves
apresentarem-se em condições de intenso catabolismo.
Diante dessa prática e considerando os motivos, que
podem favorecer o surgimento de distúrbios gastrointestinais,
realizou-se este estudo, com a finalidade de analisar as
condutas da equipe de enfermagem relacionadas à verificação
do VRG em pacientes internados na UTI e oferecer subsídios
para uma prática segura quanto à infusão da dieta pela SNG.
2 Objetivos:
Verificar se o VRG é avaliado pela equipe de enfermagem da
UTI, antes de administrar a dieta por SNG.
- Verificar a conduta da equipe de enfermagem da UTI para
infundir a dieta por SNG na presença do VRG.
3 Material e método:
Este estudo descritivo sobre VRG e a conduta da equipe
de enfermagem antes de infundir a dieta por SNG foi realizado
na UTI geral de um Hospital Universitário de porte extra-grande,
localizado no Município de São Paulo. No período da coleta de
dados, a UTI possuía 14 leitos ativos.
A população constituiu-se de enfermeiros, técnicos e
auxiliares de enfermagem que prestavam assistência direta
aos pacientes. Entre os 16 enfermeiros foram incluídos 14,
visto que dois exerciam função, essencialmente, gerencial, sem
o caráter de assistência direta ao paciente. Todos os técnicos
(7) e auxiliares de enfermagem (43) foram incluídos.
A coleta de dados foi realizada, após a obtenção da
autorização da Chefia de Enfermagem e Médica da UTI e da
aprovação do Comitê de Ética da Instituição. O Termo de
Consentimento Livre e esclarecido foi obtido de todos os que
participaram do estudo.
O procedimento de coleta de dados envolveu duas
etapas, descritas a seguir:
Etapa I: Nesta fase, a rotina diária da equipe de
enfermagem para administração da dieta em pacientes que
possuíam SNG, foi observada com base em roteiro estruturado.
As observações foram realizadas em todos os períodos de
trabalho das equipes, de 14 de outubro a 24 de novembro de
2001. A observação abrangeu desde o momento em que cada
enfermeiro, técnico e auxiliar de enfermagem obteve o frasco
da dieta, proveniente do serviço de nutrição e dietética, para
administrar ao paciente até o término da infusão ou do tempo
de infusão da dieta (1h30min). Cada membro da equipe de
enfermagem foi observado uma única vez.
Etapa II: De 28 de novembro a 09 de dezembro de 2001,
após o período de observação da rotina, foi aplicado um
formulário à população do estudo com questões relacionadas
aos itens da observação. As questões relacionaram-se à ação
primária do profissional que presta assistência ao paciente
com SNG, antes da infusão da dieta (se o VRG é verificado ou
não) e diante da presença do VRG (manutenção da SNG aberta,
interrupção da dieta e destino do VRG).
Os dados foram analisados baseados em estatística
descritiva.
4 Resultados
4.1 Observação da prática diária para infusão da dieta por
SNG:
No período de observação da rotina diária da equipe de
enfermagem para administração da dieta por SNG, notou-se
que do total de 14 enfermeiros somente 1 (7,14%) realizou o
procedimento. No grupo de técnicos e auxiliares de enfermagem
(téc./aux.), a observação abrangeu 48 (96%) do total de 50
funcionários.
A etapa de observação revelou que 76,56 % da população
do estudo não verificaram o VRG, antes da administração da dieta por SNG. Esta prática foi constatada em todos os períodos
de trabalho da equipe de enfermagem.
Diante do resultado obtido na primeira etapa do estudo,
os demais itens não puderam ser observados. Os aspectos
que seriam observados relacionava-se ao volume do conteúdo
residual gástrico, à conduta de enfermagem diante do VRG (
SNG aberta ou fechada) e ao destino do VRG (re-introdução ao
paciente ou eliminada).
Em relação ao volume de dieta presente em cada frasco
e o volume infundido, verificou-se que, do total de 49 observações,
em 19 (38,8%) a dieta não foi totalmente infundida. O volume de
dieta a ser infundido variava de 50 a 250 ml. Do total de 49
funcionários observados, 61,2% administraram o volume total
prescrito; 30,6% infundiram um volume menor que o prescrito e
em 8,2% dos casos a dieta prescrita não foi administrada 4.2 Conduta da equipe de enfermagem para infundir a dieta
por SNG
Na segunda etapa do estudo, 14 enfermeiros (100%) e
48 téc./aux. (96%) responderam às questões do formulário
sobre a conduta da equipe de enfermagem para infundir a dieta
por SNG.
Do total de membros da equipe de enfermagem, 90,63%
afirmaram verificar o VRG antes de infundir a dieta por SNG. A
totalidade dos enfermeiros e 88% dos téc. e aux. de enfermagem
afirmaram aspirar a SNG, antes de infundirem a dieta.
Em relação à freqüência da verificação do VRG antes de
infundir a dieta, constatou-se que 33 (51,56%) dos membros da
equipe de enfermagem responderam que sempre realizavam a
verificação; quatro (6,25%) entre téc./aux. responderam que nunca
verificavam o VRG, antes de infundirem a dieta.
A razão mais citada, para aspirarem a SNG antes de
infundirem a dieta, foi a necessidade de avaliar o VRG (41),
seguida da verificação da localização da sonda (25). Outras
razões menos citadas incluíam a verificação da perviedade da
SNG (3), a profilaxia da broncoaspiração (2) e a avaliação da
distensão gástrica (1).
Constatou-se uma variedade de respostas quanto à
quantidade do VRG, à partir da qual a SNG seria mantida aberta,
antes de infundir a dieta. O volume total considerado para a
tomada de decisão, variou de 2 a 300 ml. Entre os enfermeiros,
4 (28,58%) responderam abrir a SNG quando o VRG aspirado
for superior a 50% do volume da dieta a ser infundida. No grupo
de téc./aux., verificou-se que o porcentual mais elevado (20%)
correspondeu a 100 ml do VRG aspirado.
As respostas sobre o tempo em que a SNG é mantida
aberta, na vigência de VRG foram variadas. Na população
estudada, 21 (32,82%) disseram aguardar três horas para
infusão da próxima dieta, seguida de 13 (20,32%) que relataram aguardar o término do refluxo do VRG; apenas 4,69% afirmaram
não abrir a SNG.
Embora não tenha sido possível observar, na primeira
fase do estudo, o destino que a equipe de enfermagem dava ao
VRG aspirado pela SNG antes de infundir a dieta, na segunda
etapa, as necessidades apontaram uma prática freqüente. Do
total, 50 (78,13%) responderam desprezar o conteúdo aspirado
e 8 (12,5%) afirmaram devolver o conteúdo aspirado pela SNG
ao paciente.
Quando questionados a respeito do volume da dieta, que
infundem no paciente, após a verificação do VRG, 37 (57,81%)
citaram administrar 100% do volume prescrito pelo médico e 10
(15,62%) responderam infundir 50% do volume prescrito. Só no
grupo de téc./aux., verificou-se uma resposta que afirmava
descontar o VRG aspirado do volume de dieta prescrito.
5 Discussão:
O emprego precoce da terapia nutricional apresenta
benefícios consideráveis na recuperação do paciente grave.
Assim, entre os objetivos terapêuticos de primeira ordem em
pacientes críticos encontra-se a nutrição. Ainda que fracionada e em pequenos volumes, a infusão da dieta pode prevenir a
atrofia da mucosa gástrica(7) e diminuir a translocação
bacteriana(8).
A enfermeira desempenha um importante papel na
prevenção das complicações sérias relacionadas à
administração da dieta por sondas. “A equipe de enfermagem
deve conhecer a importância do suporte nutricional e deve ser
capaz de reconhecer complicações potenciais e intervir,
imediatamente, quando estas acontecem(5:485)”.
As complicações mais comuns são a diarréia, náusea e
a broncoaspiração. A diarréia é um indicativo de sobrecarga
osmolar, sua prevenção consiste em infundir a dieta lentamente.
A náusea durante a administração da dieta indica o
esvaziamento gástrico lentificado, resultante do uso de sedativos
nos pacientes de UTI. Nessa situação, a infusão da dieta deve
ser interrompida por uma ou duas horas ou reduzir o
gotejamento até aliviar o sintoma, e a enfermeira deve pesquisar
a causa. Outra complicação séria e potencial é a pneumonia
aspirativa. A existência de VRG elevado é risco para vômitos e
aspiração. Nesse caso, a verificação do VRG antes da infusão
da dieta pode evitar seu acúmulo e conseqüente
broncoaspiração.
A avaliação do VRG deve ser realizada aspirando-se a
SNG com o auxílio de uma seringa de 20 ml(9) ou mais e é feita
sempre nos momentos que antecedem a administração da
dieta intermitente ou de 4/4 horas quando a dieta é contínua(10).
O conteúdo gástrico aspirado deve ser avaliado quanto a seu
aspecto e volume(11). A observação do VRG auxilia a equipe
multiprofissional na tomada de decisão quanto à conduta no
suporte nutricional.
Na primeira etapa deste estudo, a verificação do VRG
não foi realizada por 76,56% dos membros da equipe de
enfermagem. Entretanto diferentemente da primeira, na segunda
etapa, constatou-se que a grande maioria (90,63%) apontou
sua importância e afirmou realizar o procedimento sempre
(51,56%) e, às, vezes (39,07%) antes de cada infusão da dieta.
Em pacientes críticos a ocorrência de refluxo gástrico
elevado é freqüente e a SNG favorece o seu evento(12). Um VRG
de 100 a 150 ml é considerado uma evidência de retardo no
esvaziamento gástrico(5,10). Volumes acima de 140 ml podem
causar o refluxo em pacientes com diminuição do tônus do
esfíncter esofágico, potencializando o risco para a aspiração(13).
Além dos fatores já descritos, a seleção da sonda é um
aspecto importante na ocorrência de refluxo gástrico. Em
pacientes internados na UTI, é possível observar o uso de SNG
para drenar o conteúdo gástrico ou infundir a dieta. Por serem
constituídas de material menos flexível e mais calibroso, as
sondas de polietileno não são indicadas para o uso prolongado
e podem provocar complicações mecânicas com maior
freqüência(10). Estes podem diminuir a competência do esfíncter
esofagogástrico, favorecendo o risco de refluxo, além de
promover desconforto, interferir na tosse e na respiração
espontânea(14).
Na etapa de observação deste estudo, percebeu-se que
a dieta administrada era controlada inadequadamente,
resultando em infusão incompleta, correspondendo em média
a 134 ml do volume médio prescrito (184 ml). A perda de parte
da dieta pode estar relacionada ao controle do gotejamento da
infusão, que era realizada de forma gravitacional.
Nota-se ser freqüente o paciente internado em uma UTI
apresentar fatores que podem levar a desnutrição hospitalar
como gasto energético, catabolismo, diarréia, vômitos, retardo
na indicação da terapia nutricional entre outros(1). A falha na
suplementação das necessidades calóricas e nutricionais dos
pacientes só contribui para o aumento da desnutrição hospitalar.
A manutenção da SNG aberta após a constatação da
presença de VRG não é relatada nas referências consultadas.
No entanto, essa conduta é observada com freqüência na UTI
estudada, o que levou a incluí-la como um dos itens da coleta de dados. Constatou-se que um grupo significativo (37,52%)
abriria a SNG com volumes muito baixos (2 a 80 ml) aspirados
pela SNG, outros (20,31%) afirmaram abrir a SNG a partir de
100 ml e a manteriam aberta, em média 3 horas; houve os que
conservariam a SNG aberta até o refluxo gástrico parar e poucos
a abririam.
Neste estudo, 78,13% dos membros da equipe de
enfermagem responderam que desprezam o VRG. Além disso,
57,81% afirmaram infundir 100% da dieta prescrita,
independente do VRG aspirado pela SNG. Diante das condições
nutricionais do paciente crítico e associado ao fato de desprezar
o VRG pode propiciar ou agravar o desequilíbrio hidroeletrolítico
e as alterações do balanço nutricional(15).
A velocidade de esvaziamento gástrico é controlada por
vários fatores e se dá de 1 a 4 h, entre elas: o peristaltismo da
musculatura do estômago; o diâmetro da luz do piloro que sofre
alterações, de acordo com sinais nervosos e humorais
provenientes do estômago e do duodeno; a quantidade de
quimo que o intestino delgado pode processar. O desequilíbrio
entre esses fatores pode ocasionar distúrbios digestivos que
se manifestam pelo acúmulo de volume gástrico(16).
O volume médio produzido endogenamente pela
secreção da saliva e do suco gástrico é em torno de 188 ml/h(17).
Em condições de intolerância gástrica, somando-se a este valor
o volume da dieta que o paciente deve receber, haverá o risco
para ocorrência de alguma complicação.
O VRG é considerado como um indicador de intolerância
gástrica, no entanto, não há consenso a respeito do VRG mínimo
para prevenir a pneumonia aspirativa. As opiniões a respeito
variam conforme o autor. Alguns consideram o VRG alto em
adultos, quando o volume aspirado é em torno de 100 a
150ml(9,10); outros o consideram como sendo um conteúdo maior
que 50% do volume da última dieta administrada(18). Mas,
volumes acima de 200ml são considerados excessivos(19,20).
Poucos estudos relatam condutas a serem tomadas na
vigência de VRG elevado em pacientes com SNG e com infusão
de dieta intermitente. Atualmente a maioria das condutas
verificadas na literatura, referem-se à dieta enteral em infusão
contínua.
Casos em que o VRG atingir até 150ml, o conteúdo
aspirado deve ser devolvido e a dieta infundida, quando a
administração é feita de forma intermitente. Se o VRG aspirado
for maior que 150ml, recomenda-se devolvê-lo e a dieta
temporariamente suspensa. A infusão da dieta dependerá da
reavaliação do VRG, que se estiver acima de 150ml, este deve
ser desprezado e a dieta suspensa(6).
As recomendações relacionadas ao VRG apresentadas
na literatura, para as situações em que a dieta é administrada
de forma contínua diferem daquelas verificadas para a infusão
intermitente. A devolução do VRG não é consenso quando a
infusão é contínua. A administração de medicação procinética
é recomendada nos casos em que o VRG aspirado é acima de
150ml em duas verificações consecutivas(21). A recomendação
sobre a redução do volume da dieta enteral a ser infundida na
presença de VRG, também, varia entre os autores. Há aqueles
que recomendam redução do volume da dieta enteral quando o
VRG aspirado, pela segunda vez, é acima de 200ml(19,22) e,
aqueles que a recomendam a partir da terceira vez que se
aspirar um VRG elevado. A suspensão da infusão da dieta é
recomendada quando o VRG é maior que 500ml ou quando o
VRG aspirado for maior que 150ml pela quarta vez consecutiva.
Na infusão contínua da nutrição enteral o esquema de avaliação
do VRG deve ser realizada de 4/4h desde o primeiro dia de
administrar da dieta até o quinto dia. A partir do sexto dia a
verificação poderá ser feita em intervalos de 12/12h(21).
Não existe um consenso no que diz respeito ao valor do
VRG que determine a falência alimentar, mesmo com a
presença de um VRG alto. Porém, não deve haver a interrupção
imediata da alimentação, pois esta pode favorecer complicações funcionais do trato gastrointestinal e metabólicas.
Tal cuidado permite ao sistema digestivo se adaptar ao aporte
nutricional(20). Assim, o VRG elevado deve ser analisado
juntamente com outros dados clínicos do paciente, tais como a
distensão abdominal, a qualidade dos ruídos hidroaéreos e
ainda do raios-X abdominal(15).
Diante dos resultados do estudo torna-se evidente a
importância de um controle adequado da infusão da dieta ao
paciente. A equipe de enfermagem desempenha papel
fundamental na promoção e manutenção dessa terapêutica,
visto que é a responsável pela execução do procedimento.
6 Considerações finais:
Os resultados do estudo permitiram as seguintes
conclusões:
A maioria (76,56%) dos membros da equipe de
enfermagem não verificou o VRG antes de infundir a dieta por
SNG, embora (90,63%) tenham afirmado que realizam o
procedimento. Do total de membros da equipe de enfermagem,
20,31% afirmaram abrir a SNG à partir de 100ml de VRG, 78,13%
citaram desprezar o VRG aspirado, 32,82% afirmaram manter
a SNG aberta por 3 horas na presença de VRG e 57,81%
mencioram administrar 100% do volume prescrito para o
paciente independente do VRG aspirado pela SNG.
Os resultados deste estudo não permitem afirmar que a
prática para a administração da dieta por SNG seja realizada
com freqüência conforme o observado, pois este estudo
apresenta como fatores limitantes o fato de ter sido realizada
somente em uma Unidade de Terapia Intensiva e a observação
de cada funcionário ter sido programada para uma única vez.
Mas, este estudo permitiu verificar que, além da supervisão, há
necessidade de realizar orientações freqüentes para a equipe
de enfermagem sobre os cuidados que lhe são pertinentes
para infusão da dieta por SNG, visto que as opiniões e a prática
dos cuidados em relação a muitos aspectos do cuidado
nutricional são divergentes ao que realmente é o ideal.
Verificou-se que muitos sabem que o procedimento de
aspirar a SNG, antes de administrar a dieta deve ser realizado,
porém, ao observar as razões para a verificação do VRG só
duas pessoas responderam aspirar a SNG para evitar a
broncoaspiração, uma das complicações mais importantes.
Desse modo, tão importante quanto as orientações é o
acompanhamento diário dos procedimentos realizados pela
equipe, pois só assim será possível detectar as falhas na
assistência prestada e planejar ações educativas que visem a
melhoria da prática assistencial.
Nota-se que embora existam inúmeros estudos
referentes ao suporte nutricional e às variáveis sobre o tema,
não há consenso em relação ao valor do VRG que poderia ser
considerado como intolerável. Mesmo frente a estas variáveis,
é necessário que exista uniformidade no processo da ação
prestada pelos membros da equipe, para reduzir as possíveis
falhas na assistência ao suporte nutricional adequado. Isto é
possível por meio da elaboração e implantação de protocolos e
de orientações sobre a prática da assistência de enfermagem
no suporte nutricional.
Fonte: http://www.scielo.br/pdf/reben/v56n6/a14v56n6.pdf
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