Os serviços de urgência e emergência compõem um importante elemento de atenção à saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), são caracterizados como um ambiente de alto risco, o qual requer infraestrutura e recursos tecnológicos específicos, bem como profissionais capacitados, que atendem aos usuários segundo suas necessidades.
Contudo, a crescente demanda do número de acidentes e da violência urbana, a superlotação, o processo de trabalho fragmentado, a exclusão dos usuários na porta entrada, o desrespeito aos direitos dos mesmos e a pequena articulação com os outros serviços de saúde têm sobrecarregado ainda mais a estrutura da rede de urgência e emergência (BRASIL, 2002; BRASIL, 2009).
Segundo o Ministério da Saúde, essa realidade é ainda agravada por problemas organizacionais como a falta de triagem de risco, o que determina o atendimento por ordem de chegada, sem que seja realizada uma avaliação prévia do paciente. A não distinção de riscos ou graus de sofrimento faz com que alguns casos se agravem na fila de espera, aumentando o risco de morte de pacientes pelo não atendimento no tempo adequado.
Diante disso, verifica-se a necessidade de repensar e reformular a atuação nos serviços de urgência e emergência, com vistas à prestação de uma atenção resolutiva, humanizada e acolhedora (BRASIL, 2002).
Dessa perspectiva emerge a discussão acerca do acolhimento, o qual representa uma estratégia para a otimização do atendimento em urgência e emergência, uma vez que favorece a construção de confiança e compromisso entre as equipes e os serviços (BRASIL, 2009). Além disso, possibilita avanços na relação entre usuários, funcionários e gestores da saúde.
Muito tem se falado sobre as formas de acolhimento e a sua importância como uma prática de saúde. Mas você sabe o que significa “acolher”?
A palavra ‘acolher’ significa ‘dar acolhida, admitir, aceitar, dar ouvidos, dar crédito a, agasalhar, receber, atender’ (FERREIRA, 1975 citado por BRASIL, 2009).
O acolhimento como ‘ato ou efeito de acolher’ expressa uma ação de aproximação, uma atitude de inclusão, de estar em relação com algo ou alguém. É nesse sentido que se considera o acolhimento como uma das diretrizes de maior importância política, ética e estética da Política Nacional de Humanização da Atenção e da Gestão do SUS (BRASIL, 2009).
Diante desse contexto, em 2002 foi publicada a Portaria n.º 2.048 que propôs a implantação da realização de acolhimento e triagem classificatória de risco nas unidades de atendimento de urgências.
Nishio e Franco (2011) citam que o acolhimento é uma ferramenta assistencial de suma importância, porém, muitas vezes, não é utilizada adequadamente. Avaliar a vulnerabilidade e os riscos do paciente implica em estar atento não só ao sofrimento físico, mas também psíquico, valorizando as queixas do paciente. Leia o exemplo e reflita:No Brasil, preconiza-se o termo Acolhimento com Classificação de Risco, que objetiva priorizar o atendimento de acordo com critérios clínicos e não por ordem de chegada, identificando prontamente as condições de risco de vida, agir no tempo terapêutico, organizar o processo de trabalho e espaço físico, reduzir a superlotação; informar os pacientes e familiares sobre o tempo de espera diminuindo a ansiedade gerada pelo desconhecido e esclarecer a comunidade sobre a forma de tratamento (NISHIO; FRANCO, 2011). A adolescente A.M. de 15 anos de idade, chega a uma unidade de saúde sozinha, andando, visivelmente angustiada. Diz estar com muita dor na barriga. A profissional que a recebe avalia que ela pode ficar na fila. Depois de 35 minutos esperando, A.M. volta à recepção e diz que a dor está aumentando, mas é reconduzida a esperar a sua vez na fila. Passados outros 15 minutos, A.M. cai no chão e é levada para o atendimento, em coma, por ter ingerido veneno para interromper uma gravidez indesejada (BRASIL, 2009).
Colega, após a leitura acima, você consegue perceber a importância da implantação do Acolhimento com Classificação de risco? Essa história nos monstra que a Classificação de Risco é uma ferramenta que visa organizar o fluxo de pacientes que procuram os serviços de urgência/emergência, proporcionando um atendimento resolutivo e humanizado.
E como deverão ser realizados o acolhimento e a triagem classificatória de risco?
Segundo Nishio e Franco (2011) existem protocolos de classificação de risco utilizados mundialmente são: Emergency Severity Index (ESI), Australasian Triage Scale (ATS), Canadian Triage Acuity Scale (CTAS) e o Protocolo de Manchester.
O protocolo do Ministério da Saúde utiliza a mesma lógica do modelo canadense (CTAS) e está relacionado ao Projeto Humaniza SUS. O instrumento de avaliação escolhido deve ser adaptado para a realidade local em um consenso do grupo de profissionais enfermeiros da instituição (NISHIO; FRANCO, 2011).
A triagem classificatória deverá ser realizada por profissional de saúde, de nível superior, com treinamento específico, por meio da utilização de protocolos pré-estabelecidos. É proibida nessa triagem, a dispensa de pacientes antes que estes recebam atendimento médico. Dessa forma, após a triagem, os pacientes são encaminhados aos consultórios médicos. Uma vez realizado o atendimento, o paciente deverá ter sua referência garantida, através do encaminhamento realizado às centrais de regulação ou aos fluxos previamente pactuados (BRASIL, 2002).De acordo com a Portaria n.º 2.048/2002, o acolhimento dos pacientes poderá ser realizado na própria recepção e por profissionais de saúde designados e treinados. Em seguida, deverá ser feita a triagem classificatória de risco, que tem por objetivo avaliar o grau de urgência das queixas dos pacientes, dispondo-os em ordem de prioridade para o atendimento (NISHIO; FRANCO, 2011).
Dessa forma, após o atendimento inicial realizado pela recepção o paciente é encaminhado ao enfermeiro, o qual realiza a classificação de risco, por meio da anamnese e exame físico. Posteriormente o paciente é encaminhado ao médico e reavaliado pelo enfermeiro. A classificação de risco se dará por cores, conforme preconiza o Ministério da Saúde (BRASIL, 2004). Veja o quadro a seguir:O Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), através da Resolução n. 423 de 2012, normatiza no âmbito do Sistema Cofen/Conselhos Regionais de Enfermagem a participação do Enfermeiro na atividade de classificação de riscos, determinando que esta atividade é privativa do Enfermeiro e que este deverá estar dotado de conhecimentos, competências e habilidades técnica-científica para tal procedimento.
Classificação | Intervenção médica | Reavaliação do enfermeiro | Prioridades |
Vermelho (emergência) | Intervenção médica imediata | Cuidados contínuos | Tratamento médico imediato |
Amarelo (urgência) | Avaliação médica < 30 minutos | A cada 30 minutos | Aguardam atendimento médico prioritário |
Verde (semi-urgência) | Avaliação médica < 1 hora | A cada 60 minutos | Aguardam consulta com prioridade em relação ao azul |
Azul (não urgência) | Avaliação médica < 2 horas | A cada 2 horas | Atendimento por ordem de chegada |
Quadro 1 – Níveis de gravidade por cor e tempo de
atendimento.
Fonte: NISHIO; FRANCO (2011).
O acolhimento com classificação de risco é uma ferramenta gerencial importante para humanizar e priorizar o atendimento prestado, bem como permite adequar as prioridades estabelecidas às reais necessidades da comunidade.
Para implantar o acolhimento com classificação de risco é importante a valorização da comunicação com o paciente, e, essa atitude envolve aprendizado e mudança de comportamento por parte dos profissionais.
Fonte:http://www.jornadaead.com.br/cofen/atualizacoes/Atualizacao_Acolhimento_com_Classificacao_de_Risco_nos_servicos_de_urgencia_e_emergencia.html