quarta-feira, 6 de março de 2013

Enfermagem e o Paciente Renal Crônico


Colegas, abordarei ao longo dessa atualização sobre o doente renal crônico (DRC) e a sua relação com a via de tratamento mais recorrente para sua patologia hoje, no Brasil que é a submissão à hemodiálise.
Para Santos et al. (2009), o DRC deve receber tratamento adequado de acordo com suas necessidades.  A equipe de saúde através da observação dos profissionais, em especial, dos enfermeiros, deve levar em consideração que o aumento da expectativa de vida da população tem contribuído com a modificação dos hábitos de vida. Com isso as patologias crônico-degenerativas ganharam mais espaço no quadro de saúde da população.
Verifica-se que a grande prevalência de doentes renais crônicos são indivíduos acima dos 60 anos, esse dado interfere diretamente na assistência a saúde, pois esses pacientes exigem maior atenção por parte desses profissionais. Dessa forma, o desenvolvimento de programas para prevenção e manutenção da saúde desses indivíduos se torna essencial para a prática da enfermagem.
O tratamento para que o DRC tenha maiores possibilidades de ter uma vida longeva e com melhor qualidade é a diálise. Essa, por sua vez, exige do paciente estrutura em especial, emocional, pois, é uma terapêutica longa, podendo ser dolorosa e com limitações que incluem restrições alimentares. Além disso, essa terapêutica pode dificultar as relações interpessoais do paciente para com os familiares e amigos, em consequência pode afetar sua autoestima e a visão que tem de si, fazendo com que o indivíduo desconstrua sua autoimagem e se torne mais susceptível a não aceitação de sua patologia (PARADISO, 2006).
Diante disso, o papel da enfermagem é essencial nesse cenário, pois esses profissionais podem auxiliar no processo de aceitação e adesão ao tratamento por parte do paciente. Mais adiante discorreremos isso.
Agora abordaremos as práticas terapêuticas aplicadas para o paciente renal crônico. Vamos prosseguir?
Inicialmente o DRC pode ser tratado por maneiras menos invasivas através do tratamento medicamentoso, do controle de pressão arterial e da adaptação na dieta alimentar. Quando o indivíduo não consegue mais responder de forma satisfatória a terapêutica convencional esse, então é direcionado para o programa dialítico que é tido então, como uma via alternativa já que é bastante invasiva e causa muitas alterações comportamentais ao paciente, conforme já vimos. “No geral, os tratamentos têm oferecido resultados efetivos na expectativa e qualidade de vida, bem como na redução das co-morbidades dos doentes renais”(TRENTINI, et al., 2004).
A diálise como terapêutica e a busca pela qualidade de vida ao DRC
 A diálise é o método pelo qual é realizada a retirada de substâncias, em excesso, e toxinas do organismo do indivíduo quando os rins do doente renal não conseguem mais executar essa função (SMELTZER et al., 2005).
Esquema 1 – Aplicações da diálise.


Fonte: Adaptado BRASIL
Colega, queremos chamar a sua atenção para que observem em sua prática do cotidiano hospitalar, as características que levam a escolha da terapêutica aplicada nos pacientes renais. Hoje abordaremos apenas uma delas, a hemodiálise, sem esquecer a importância dos outros métodos, mas esse é tema para uma próxima atualização. Então, vamos em frente!
A escolha da terapia a ser aplicada no paciente depende de vários fatores e esta escolha deve ser minuciosamente analisada entre paciente, familiares e médico para que nenhuma escolha seja precoce e posteriormente traga consequências negativas ao portador da patologia renal, tais como:
  • Idade;
  • Comorbidade;
  • Conhecimento do indivíduo acerca de sua patologia e terapêutica;
  • Contraindicações (impossibilidade de acesso vascular no caso da hemodiálise)                                                                                                                (BRASIL, 2012).
O paciente deve estar a par de sua situação e das abdicações e mudanças que ocorrerão em especial com seu corpo, esse entendimento é de suma importância, pois direcionará o paciente a adesão ou não ao tratamento, o que, por conseguinte vai delinear quais alterações e em quanto tempo elas aparecerão.
Hemodiálise
A hemodiálise teve sua aplicação clínica iniciada a mais de 60 anos e é definida como uma Terapia Renal Substitutiva (MATOS et al., 2009). Inicialmente a hemodiálise era indicada apenas para pacientes com Insuficiência Renal Aguda (IRA) para mantê-los vivos até a recuperação da função renal. Hoje, com os avanços tecnológicos na fabricação das máquinas de diálise e dialisadores e, principalmente, com o desenvolvimento de novas técnicas cirúrgicas de acesso vascular (junção de uma artéria com uma veia, por exemplo, o chamado shunt artériovenoso), mais de um milhão de pessoas se beneficiam da terapia renal substitutiva na ausência de um órgão vital como o rim (MATOS et al., 2009).
Quando os rins gradativamente se tornam disfuncionais os produtos resultantes da degradação metabólica e o excesso de líquidos que já não é mais excretado por mecanismos fisiológicos normais pode ser removido do sangue através da hemodiálise, caso essas substâncias, tais como, uréia, potássio e sódio não sejam removidos a resultante pode ser muito prejudicial para a saúde do paciente renal (MATOS et al., 2009).
Doenças como Diabetes Mellitus, Uropatia Obstrutiva e Hipertensão podem levar à falência renal. Essa falência ocasiona em suma, a retenção dos liquídos acima citadas, bem como de outras toxinas (CONGRESSO BRASILEIRO DE NEFROLOGIA, 2012).
Dessa forma, a hemodiálise tem como intuito extrair do sangue essas substâncias tóxicas e outras que estejam presentes em excesso no organismo, essa função normalmente é assumida pelos rins, no entanto quando ocorrem disfunções renais a máquina de hemodiálise assume esse papel e passa atuar como um rim artificial durante o momento do procedimento (BRASIL, 2012).
A máquina de hemodiálise atua como um rim artificial para o indivíduo!
O tempo de submissão ao tratamento varia de um paciente para outro e em casos mais graves o indivíduo é submetido ao processo durante toda a vida ou até que seja realizado o transplante renal, que por sua vez, aumenta a qualidade de vida do indivíduo e elimina sua dependência à diálise.
O processo
 No chamado esquema convencional a hemodiálise ocorre em sessões de três vezes por semana, com duração de cerca de quatro horas cada sessão.
A filtração ocorre pelos seguintes mecanismos:Durante o processo da hemodiálise o sangue a ser filtrado é desviado da corrente sanguínea do paciente para o dialisador, onde é limpo e posteriormente regressa ao paciente (BRASIL, 2011).
  • Difusão: retirada de substâncias e toxinas em excesso, com locomoção de uma área de maior concentração o sangue, para uma de menor concentração, que é o dialisado (SMELTZE et al., 2005).
  • Osmose: retirada de água, com locomoção da mesma de uma área de maior concentração o sangue para outra de menor concentração que também é o dialisado (SMELTZE et al., 2005).
Esquema 2: Sistema de Hemodiálise.

Fonte:www.mdsaude.com
O circuito de hemodiálise tem a seguinte composição:

  •  Hemodialisador (filtro)
É o instrumento que permite o contato do sangue com a solução dialisadora (SMELTZER et al., 2005).
Durante o tratamento, o sangue flui por tubos para o hemodialisador e após limpeza do sangue, o mesmo flui do hemodialisador de volta ao corpo do doente (SMELTZER et al., 2005).
  •    Sistema de circulação de sangue
É composto por acesso vascular que pode ser por fístula arteriovenosa -A-V (União de uma artéria com uma veia), enxerto arteriovenoso - A-V  ou cateter e pelo circuito extra-corporal de circulação do sangue que inclui uma bomba que que move o sangue do acesso vascular para o dialisador e novamente ao paciente , um sistema de circulação da solução dialisadora e monitores de segurança que controlam a temperatura e o fluxo do dialisado. (SMELTZER et al., 2005)
  •    Dialisado (líquido)
É resultante de determinados solutos concentrados adicionados a água pura tratada (SMELTZER et al., 2005).
Nas máquinas de hemodiálise o dialisador atua como membrana semipermeável que permite a passagem entre solutos e solventes. Esse processo ocorre através da difusão durante o mesmo, acontece à extração das partículas basicamente pela diferença do peso molecular entre uma e outra. Após a filtração o sangue do indivíduo regressa atingindo assim, o objetivo da terapêutica (SMELTZER et al., 2005).
Para que se atinja a rede venosa e por consequência o sangue possa ser removido do organismo e sofra o processo da hemodiálise hoje, dispomos de vários meios para que consigamos um acesso vascular viável: (SMELTZER et al., 2005).
  • Cateter subclávio;
  • Cateter jugular interno;
  • Cateter femoral;
  • Fístula;
  • Enxerto.
 O paciente em condições de submissão à hemodiálise fica susceptível a diversas complicações dentre elas:
  • Problemas cardiovasculares que inevitavelmente aparecem ou se agravam com o decorre do tempo;
  • Distúrbios lipídico;
  • Insuficiência vascular;
  • Anemia;
  • Fadiga;
  • Apatia;
  • Hipotensão;
  • Alterações musculoesqueléticas;
  • Embolia gasosa                                                                                                  (SMELTZER et al., 2005).
Além das alterações físicas pacientes que são submetidos por longos períodos à hemodiálise tendem a apresentar com mais evidencias quadros problemáticos provenientes de seus períodos em ambiente hospitalar, tais como déficit financeiro, disfunção sexual, alteração de relacionamentos interpessoais, preocupações com o futuro de seus familiares e com o seu ‘amanhã’, além de nem sempre lidarem bem com as alterações no estilo de vida decorrente da terapia, esse último item incide com maior evidência em indivíduos jovens (MATOS et al., 2009).
A expectativa de vida restante de um paciente ao iniciar hemodiálise é apenas cerca de um quarto daquela da população geral com a mesma idade. O que influencia diretamente as complicações que cada indivíduo apresenta é o esquema dialítico adotado (MATOS et al., 2009).
A hemodiálise e a enfermagem 
A atuação da equipe de enfermagem é de suma importância no decorrer de todo esse processo, pois é de sua competência atentar, observar e detectar qualquer alteração durante a terapêutica tanto em reações do paciente quanto anormalidade do dialisador e do dialisado, essa observação é essencial para que a qualidade no processo seja efetiva, evitando-se assim complicações imediatas ou posteriores (SMELTZER et al., 2005). A orientação tanto para os pacientes em ambiente hospitalar como para os em âmbito domiciliar é um caminho muito promissor na busca eminente de minimizar os danos aos pacientes e a seus familiares. É imprescindível e desafiador para o enfermeiro conseguir trabalhar com o paciente tanto física quanto psicologicamente antes de suas sessões de hemodiálise. Em grande parte dos casos o indivíduo apresenta resistência em compreender a terapêutica dialítica. Diante disso, é nosso papel frente a cenário não deixar que nada passe despercebido para que possamos proporcionar a maior eficácia do tratamento, contribuindo para que o impacto sofrido pelo indivíduo seja na medida do possível menos prejudicial (SMELTZER et al., 2005).
Fonte:http://www.jornadaead.com.br/cofen/atualizacoes/Atualizacao_Enfermagem_e_o_Paciente_Renal_Cronico.html


Nenhum comentário:

Postar um comentário